Na proposta de exposição  Ninhos e o arquivo agora[1] o uso da fotografia no processo de criação movimenta a afirmação benjaminiana: “uma trama peculiar de espaço e tempo: aparência única de uma distância, por muito perto que se possa estar”, como um fazer impregnado pela noção indiciária, pelo pensamento sobre o tempo, sua passagem e a certeza da impermanência das coisas. Concentramos nossa atenção nos fenômenos co-emergentes durante as diferentes etapas dos processos de criação, também, envolvendo a gravura e a imagem numérica.

[1]     A exposição é um dos resultados parciais da pesquisa Procedimentos de contato: desdobramentos da fotografia em imagem numérica na atualidade, UFRGS/ Feevale. Coordenação na UFRGS Elaine Tedesco e Lurdi Blauth na Universidade Feevale.

 

 

No cruzamento dessas linguagens, exploramos as passagens de um procedimento a outro num devir em aberto, cada artista busca desenvolver as estratégias que mais se aproximam da caminhada individual, mas também ocorrem convergências, no caso nós (Elaine Tedesco e Lurdi Blauth) incluímos em nossas operações de ateliê trabalhar com imagens de arquivo. É mais preciso afirmar que optamos por criar, a partir de imagens fotográficas preexistentes, partes de nossas memórias pessoais. Fotografias guardadas nos álbuns familiares, nos envelopes, nas gavetas, nas pastas eletrônicas, não necessariamente sistematizadas como arquivos, mas nomeadas como tal.

Na série apresentada por Elaine Tedesco o arquivo agora é um trabalho que pensa a fotografia a partir do negativo, da luz, na passagem da base química para o digital. Esta é uma série de fotografias que tem como ponto de partida a revisão de conjuntos de negativos que foram obtidos no entorno do Mercado Público de Porto Alegre e no Parque Farroupilha, fotografando pessoas, com uma Leica M2, no início dos anos 80.  Os negativos, agora escolhidos  como material de trabalho, são na maior parte retratos, esses são projetados na sala de exposições e sobrepostos às paredes, fundem-se com elas resultando nas fotografias impregnadas de novas significações apresentadas na exposição.

Na série apresentada por Lurdi Blauth, o arquivo agora fazem parte de um acervo pessoal de fotografias digitais oriundas de locais em situação de clausura, de paredes precárias, de passagens entre interior e exterior, e ainda imagens de ninhos abandonados no meu jardim que foram acolhidos em meu atelier. Porque ninhos agora? Quais associações entre todas essas imagens que são apresentadas nessa exposição? Inicio com uma citação poética: “ninhos brancos, teus pássaros vão florir” (Robert Ganzo, in: BACHELARD, 2008, p. 103).  No pensamento  bachelardiano encontramos algumas reflexões:  o ninho tem a função de habitar, e é uma imagem que desperta em nós a imagem de uma primitividade. Ao observarmos um ninho, sempre ficamos encantados com a sua engenhosidade e perfeição com que o pássaro constrói a sua pequena morada, deixando a marca de um instinto que sempre se repete. O ninho é também um esconderijo da vida alada, onde talvez se possa ficar invisível sob o céu.  Ao mesmo tempo em que é um abrigo precário, também remete ao devaneio da segurança e o lugar do refúgio absoluto. Estas imagens me instigam a pensar sobre flutuações dialéticas entre o interior e o exterior, entre o escondido e o manifesto, entre possibilidades e impossibilidades.  As imagens desses trabalhos são oriundas da fotografia digital, da gravação de placas de metal, da impressão convencional  e da impressão digital sobre diferentes suportes.  Nesse processo de migração entre meios e procedimentos são provocadas tensões e distensões, cujo resultado final guarda aspectos indiciários da fotografia.

Paço Municipal de Porto Alegre – 2013

Útero, Museu e Domesticidade
Gerações do feminino da arte
MARGS – Porto Alegre, RS – 2014

Exposição Vestígios da Memória – Movimento Casa Velha 40 Anos Espaço Cultural Albano Hartz, Novo Hamburgo – 03 de agosto a 16 de outubro 2017.
MARGS, Exposição Útero, Museu e Domesticidade, 2014 – curadora Ana Zavadil

Ninhos Habitados

Cárceres

Essas duas séries, realizadas em 2013, fazem parte de um acervo pessoal de fotografias digitais oriundas de locais em situação de clausura, de paredes precárias, de passagens entre interior e exterior, e ainda imagens de ninhos abandonados no meu jardim que foram acolhidos em meu atelier. Porque ninhos agora? Quais associações entre essas imagens? No pensamento bachelardiano encontramos algumas reflexões:  o ninho tem a função de habitar, e é uma imagem que desperta em nós a imagem de uma primitividade. Ao observarmos um ninho, sempre ficamos encantados com a sua engenhosidade e perfeição com que o pássaro constrói a sua pequena morada, deixando a marca de um instinto que sempre se repete. O ninho é também um esconderijo da vida alada, onde talvez se possa ficar invisível sob o céu.  Ao mesmo tempo em que é um abrigo precário, também remete ao devaneio da segurança e o lugar do refúgio absoluto.

Por outro lado, em cárceres, a relação inverte-se, talvez, quando pensamos em espaços em que pessoas se encontram confinadas e retidas para criar situações inversas, e aí, cabe a indagação: o quê ou quem deveria ser protegido?

Estas imagens me instigam a pensar sobre flutuações dialéticas entre o interior e o exterior, entre o escondido e o manifesto, entre possibilidades e impossibilidades.  As imagens desses trabalhos são oriundas da fotografia digital, da gravação de placas de metal, da impressão convencional e da impressão digital sobre diferentes suportes.  Nesse processo de migração entre meios e procedimentos, o fazer é impregnado pela noção indiciária, pelo pensamento sobre o tempo, sua passagem e a certeza da impermanência das coisas.