Os trabalhos que compõem a série Oferendas, 2017, são imagens captadas por meio de fotografias durante caminhadas em margens de praias: a primeira, no extremo sul, na lagoa dos Patos, praia do Laranjal, Pelotas, RS; e a segunda ao longo do mar, praia de Capão da Canoa, RS.

O termo oferenda, embora tenha uma conotação associada à distintos rituais de celebração, em minhas deambulações experienciadas ao longo dessas orlas, resultam do meu encontro introspectivo com uma natureza plena de sonoridades relacionadas ao movimento das águas, dos pássaros, das conchas, de pegadas, de objetos e de outros elementos que aportam em suas margens.

Estas observações silenciosas instigam em meu imaginário o desejo de registrar, talvez, alguma permanência desses resquícios oriundos de presenças e ausências, de marcas e de vestígios que ora me encantam ora causam uma certa  indignação.  De um lado,  encontro  resquícios de rituais aliados à crenças que ofertam flores, por exemplo, e, que estão depositadas ao longo orlas, como forma de agradecimento ou mesmo para alcançar algum desejo e, de outro, me desencanto, ao me deparar com o depósito displicente de objetos e detritos. Não obstante, estes gestos e ações são oferendas do homem à natureza, pois com o movimento das marés, das chuvas, tudo retorna à água, e, consequentemente, ao homem.

Os trabalhos que ora investigo, trazem à tona algumas imagens desses momentos e instantes efêmeros, e a fotografia torna-se um dos importantes recursos de registro em minha produção artística. Posteriormente, as imagens são arquivadas, selecionadas, manipuladas no computador, impressas, transferidas, gravadas, entintadas e, finalmente, impressas sobre papel. Desse modo, percebo que, ao iniciar uma nova série de imagens, certos gestos e processos são recorrentes, como os procedimentos de meios indiretos, que éo caso da gravura. Nos trabalhos atuais, utilizo procedimentos litográficos alternativos sobre chapas de offset, como uma outra possibilidade de trabalhar com a gravação e de impressão por meio do desdobramento de dispositivos digitais e analógicos.

A produção desses trabalhos implica na hibridização de meios em cujas imagens são revelados contrastes de luz e sombra, provenientes dos aspectos indiciais da fotografia. Neste processo migratório de ir e vir entre distintos procedimentos, as imagens gravadas e impressas por meios tradicionais (prensa de xilogravura/calcografia) adquirem outras grafias e granulações, instigando uma certa tateabilidade do olhar.

Para esta exposição serão apresentadas um conjunto de 44 imagens gravadas sobre chapas de offset, impressas sobre papel hannemühle; cada imagem tem as dimensões de 22cm x 30cm, emolduradas, e instauradas na parede, (cf. planta baixa, de 9,60m); apresentação de um vídeo, relacionado com a temática da exposição, que poderá ser instalado em uma das paredes. Ressalta-se que, as imagens serão dispostas de forma agrupada ou ajustadas linearmente; porém, o video, considero, opcional, caso não haja disponibilidade de equipamento.

II CONCURSO DE ARTE IMPRESSA
Bratislava Eslováquia 2018

 

GOETHE INSTITUT – Porto Alegre – 2017